quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Cineclubismo à nado --- vejam o rico relato de um cineclubista amazônida

https://picasaweb.google.com/112206777797826368796/CineclubeCabanoNoRioDoce#

Sessões de cineclubismo e o direito ao acesso as novas tecnologias 

por Rodrigo Ethnos



O cineclubismo é um movimento cultural que já atua há muitos anos no Brasil e consiste em organizar sessões de cinema e promover diálogos sobre o tema do filme e sobre o próprio cinema. Pelo seu caráter esclarecedor, crítico e revolucionário o cineclubismo passou a ser uma excelente ferramenta para os movimentos sociais que vêem nesta atividade uma forma de se contrapor a hegemonia midiática das grandes corporações. Como eu já trabalhava produzindo um cineclube em um centro afro-religioso e resolvi que faria sessões nas ilhas de Abaetetuba também. Eu estava iniciando no movimento cineclubista paraense, que é muito atuante tendo vários cineclubes funcionando e várias organizações como a PARACINE, Federação Paraense de Cineclubes que representa uma boa parte destes cineclubistas no CNC, Conselho Nacional de Cineclubes. O poder informativo e pedagógico de uma ação cineclubista se constrói na reunião de pessoas e a comunhão delas através do cinema, utilizando esta ferramenta para além do entretenimento alienado. Como havia dito, eu estava iniciando no movimento, ainda conhecia poucas ações cineclubistas voltadas para o espaço escolar, voltadas para as ilhas da Amazônia menos ainda. Devido a geografia do lugar e a dificuldade de acesso, as ilhas de Abaetetuba ainda se abastecem de energia gerada por motores a diesel ou gasolina o que não dava garantias para se ter uma energia estável, o que me preocupava muito pois até hoje ainda estou pagando o meu projetor e a caixinha de som que comprei para realizar as sessões. Mas o problema foi resolvido com uma régua estabilizadora. Este problema! Já realizar as sessões era uma aventura épica. Primeiro, atravessar baias, furos e igarapés em canoas, rabudos e rabetas com equipamentos que ainda não estavam nem pagos. As embarcações construídas pelos ribeirinhos são muito boas e seguras, pelo menos para aqueles que tem condições de ter esses bens e de mantê-los. Como nos últimos anos, aumentou o poder de aquisição destas famílias, gerando mais acesso a créditos e financiamentos, isso possibilitou um aumento no numero de embarcações a motor e o tráfego em algumas partes dos rios. A construção das embarcações assim como pilotá-las é um aprendizado que passa de pai para filho, ou seja, aprende-se com a prática, com isso, hoje em dia é comum ver crianças pilotando essas embarcações nos rios de Abaetetuba, o que aumenta também, o número de acidentes fluviais nesta região. E fazendo parte desta estatística, o professor que vos fala com todos os equipamento do cineclube. A estória só teve um final feliz graças à tripulação e ao comandante “Garça”, no caso, eu e a mãe dele que tivemos iniciativa de remar até à margem enquanto o comandante tentava tapar o buraco no fundo do barco, aberto depois de colidirmos com uma outra rabeta (embarcação) que vinha na contramão do rio, pilotada por um jovem, que por coincidência estudava na escola que trabalhávamos naquele momento. Quando conseguimos alcançar a margem arremessei os equipamentos do cineclube para um arbusto. É claro que eu estava preparado para essas situações quando decidi fazer esse trabalho. Depois de assegurar a integridade física dos equipamentos comecei a pensar em como expandir esta aula para a comunidade? Como fazer com que o cineclube seja atuante na comunidade? Desenvolvi a seguinte estratégia para trabalhar com os alunos da 7ª série e 8ª series do ensino fundamental. Primeiro apresentei a eles um breve histórico do movimento cineclubista, sobre o seu poder de informação e de conhecimento. Depois apresentava os equipamentos, fazendo eles ligarem e desligarem os equipamentos ,conectarem os cabos, saber quanto custa, como paguei e que principalmente, pra mim, aquilo tinha sido um investimento naquele momento de troca de saberes. Percebi de inicio, que para alguns estudantes aqueles equipamentos pareciam ser maquinas caríssimas e complicadas de manusear, então foi importantíssimos certos esclarecimentos, mas também coloquei que aqueles equipamentos deveriam ser cedido pelas escolas, todas as escolas devem ter acesso a esses equipamentos, é um direito dos estudantes e que precisávamos ter consciência daquilo pra poder garantir a mudança. Falamos sobre os gêneros do cinema, documentário, ficção, dramas, comédia, tipos de filmes, hollywoodianos, clássicos, brasileiros, desenhos, animações .Escoliamos três gêneros para assistir e discutir a relevância de determinado filme para a localidade. Depois de escolher o filme, discutíamos como iriamos divulga-lo na localidade e designávamos funções do tipo, quem iria girar o motor de energia, quem esticaria a panada, quem cuidaria do livro de assinaturas e fazíamos coleta pra comprar óleo caso a escola não tivesse. Nestas discussões tínhamos que escolher um horário que fosse de acordo com a maré, pois ela enche e seca todos os dias, e se a maré baixasse muito, alguns furos secariam não permitindo a volta de alguns para suas casas. Mas os alunos conhecem o rio como conhecem a si mesmo, e sabiam o tempo exato que podiam ficar. Para divulgação estudávamos sobre os cartazes, sua historia e como produzi-los usando materiais e técnicas de baixo custo como pintura, molde vazado, colagens. Os alunos produziam os cartazes e levavam pra fixa-los próximo a suas casas, em pequenos comércios e nas igrejas. No dia da exibição constatei que a ação tinha dado certo, apesar de alguns contratempos, estávamos realizando a sessão com a presença dos pais e da comunidade. Também constatei a eficiência e a importância daquela ação enquanto pratica politica e principalmente transformadora na educação formal.Todos os registros desta ação pode ser visualizado no linck abaixo.

https://picasaweb.google.com/112206777797826368796/CineclubeCabanoNoRioDoce#



Rodrigo Ethnos
Professor/artista

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