domingo, 25 de setembro de 2011

Literatura sobre cineclubismo por Felipe Macedo

http://www.felipemacedocineclubes.blogspot.com/http://www.felipemacedocineclubes.blogspot.com/

Vigia de Nazaré no Pará ganha Cineclube

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http://www.agenciapara.com.br/noticia.asp?id_ver=78638 Alunos da Universidade do Estado do Pará e Comunidade participam do mini-curso Curtíssim-metragem em 90" no Projeto de Extensão Uni Escolas Cinema em Vigia, Pará.http://www.agenciapara.com.br/noticia.asp?id_ver=78638

Cine Clube Boi Valente, por Otávio Silva

Projeto Curta na Escola

Está sendo realizado desde o mês de julho em alguns municípios da região do sisal,
 o projeto “Curta na Escola”, idealizado pelo Cineclube Boi Valente, com o objetivo de levar
 o cinema nacional as escolas municipais.
Este projeto é desenvolvido conjuntamente com atividades cine clubistas, através de
 exibições de curtas metragens produzidos ao longo destes 100 anos de cinema na Bahia.
 Além desse processo de divulgação do cinema baiano, são realizadas oficinas teóricas e
 práticas sobre argumento, roteiro, técnicas cinematográficas e edição, as quais levam os
 jovens desta região conhecerem, de forma prática, como realizar pequenas produções.  
Para realização deste projeto contamos com o apoio das Prefeituras, através das Secretarias
 de Educação, que viabilizaram a participação dos alunos do 8º e 9º anos, oferecendo-lhes todo
 suporte para a participação das oficinas e produção dos seus curtas metragens. Fazem parte
 deste grande movimento cultural as prefeituras das cidades de Nordestina, Queimadas, 
Santa Luz, São Domingos e Valente. Esta iniciativa tem reunido cerca de 540 alunos, jovens entre
 12 e 17 anos.
O objetivo maior do projeto é colocar o audiovisual no contexto diário destes jovens, fazendo
 com que estes, tenham condições de assumir seu lugar na sociedade como cidadãos críticos,
 participativos e acima de tudo acreditando em seu potencial criativo.
Serão realizados curtas idealizados pelos jovens inscritos no projeto com o intuito de desenvolver
 o criar, o pensar e a sua autoestima,  tão importantes para um amadurecimento sadio, longe de
 males tão comum aos jovens nesta faixa etária.
Ao final do projeto será selecionado um filme de cada município, para que este possa participar
 do 1º Festival de Curta Estudantil do Sisal, que será realizado na cidade de santa luz – BA dia 16 de Dezembro de 2011.


Otavio Silva
Cineclube Boi Valente

Desafios do FAAL nas trilhas do cineclubismo, por Darcel Andrade http://www.bodocongo.com/2011/07/cineclubes-e-educacao.html

Cineclubes e Educação


Desafios do FAAL nas trilhas do cineclubismo brasileiro
Enviado por Gilvan Dockhorn – 01/07/2011
Cineclubistas
Segue um excelente artigo do camarada cineclubista Darcel, em que destaca a região Amazônica, mas cabe em qualquer espaço de discussão cineclubista do país.
Abraços,
Por Darcel Andrade Alves [1]
O Cinema Brasileiro amplia seu olhar para a Amazônia, ainda que não seja uma película 35mm ou cinemão, como muitos realizadores referendam, a produção audiovisual chega às aldeias e comunidades tradicionais na sua mais diversificada forma de criação. A espera do “novo”, que nunca chega, faz com que os realizadores ribeirinhos, quilombolas, indígenas e lideranças comunitárias se manifestem em favor de uma causa coletiva que, há algum tempo, se prolifera em rodas de conversas em comunidades e beira de rio. Portanto, este ensaio traz à tona o 1º Fórum Audiovisual da Amazônia Legal que se configura em rede nacional, para tratar questões específicas de uma região rica em biodiversidade, e busca instrumentos reguladores legais de valorização aos saberes dos povos tradicionais amazônicos, sendo o cinema e a produção audiovisual trilhas nesta “selva capital” de interesses outros; traz também contribuições às proposições da Carta de Atibaia, instrumento síntese do encontro nacional de Cineclubistas em São Paulo, como reforço às políticas culturais para o audiovisual na Amazônia Legal.     
Palavras-chaves: Cinema; Educação; Cineclubismo; Amazônia Legal
Neste ensaio, aproprio-me da liberdade poética para registrar um recorte de uma realidade vista de dentro pra fora, e saio da primeira pessoa para viver um Amazônida, filho de índia e caboclo paraense, e que transita “pelos salões, pelas casas, pelas cidades, pelos congressos, pelos guetos, trilhas, rios, vilas e aldeias” e que gosta de cinema, o bom cinema (penso), e acredita no cinema brasileiro.
O Cinema Brasileiro amplia seu olhar para a Amazônia, ainda que não seja uma película 35mm ou cinemão, como muitos realizadores referendam, a produção audiovisual chega às aldeias e comunidades tradicionais na sua mais diversificada forma de criação, como semente semeadora, seja na filmadora digital sedutora de melhor resolução, seja no mais simples dos celulares com olho eletrônico.
A espera do “novo”, que nunca chega, fez com que os realizadores ribeirinhos, quilombolas, indígenas e lideranças comunitárias se manifestassem em favor de uma causa coletiva que, há algum tempo, se prolifera em rodas de conversas em comunidades e beira de rio: o cinema papa-chibé; uma ação audiovisual alimentada com motor a diesel, um projetor, e uma caixa amplificadora com duvidosa qualidade de som. Sim, porque ouvir a narrativa sonora do filme e o ronco do motor-gerador, mais o pô-pô-pô dos barcos que atracam no porto atraídos pela novidade, é querer gostar muito de cinema. É um novo que se conquista pelo esforço do próprio nativo empreendedor, na busca de uma alternativa para realizar e compartilhar seu sonho – fazer cineclubismo sem saber as implicações de sua atitude.
Saindo deste extremo, nos aproximamos de outras realidades mais privilegiadas, de comunidades ditas tradicionais que possuem certa infra-estrutura para exibir filmes, onde a “civilização” da energia elétrica se faz presente. Aqui encontramos grupos mais organizados e, certamente, algum profissional com acesso às informações socializadas pelo ciberespaço, onde pesca saberes compartilhados que caem em sua rede [virtual], um tal de edital – esses tão famigerados regulamentos cheios de regrinhas e pré-requisitos, exige experiências e um currículo exemplar. Na revolta da maré, o curioso pesquisador busca informações de como concorrer às vagas na seleção de melhor roteiro, melhor projeto audiovisual, e tenta decifrar os códigos da incompletude mercantilista para ser aceito como um dos raros e promitentes diretores de curta-metragem; não sabe ele que apenas um projeto inscrito do norte será contemplado, “para não dizer que não falamos de cinema”, na condição corporativista na geopolítica desinteressada, apesar do esforço coletivo de alguns profissionais de desejar reverter essa situação em favor de uma demanda tão distante. “Mas essa é a realidade brasileira”, dizem alguns. E lavam as mãos!
De Roma para o Brasil, Pilatos se converteria se presenciasse o que os amazônidas fazem para produzir e apresentar um filme, edificado na caseira ilha de edição, mexendo aqui e ali, um botão lá e cá, e assim o caboclo aprende a editar seu próprio filme e vai fazendo sua revolução, silenciosa, mas revolução, a sua própria revolução. Assim se faz um movimento antropofágico com bases em ideais coletivos, que minam mentes e se multiplicam na luz de uma tela, pequenina às vezes, ampla noutras mínimas vezes.
Em lugares bem distantes, o “caboco da Amazônia” rala, rala, rema, rema para produzir imagens e recortá-la na percepção que lhe cabe, depois que tem acesso a uma pequena tecnologia que aprende a manusear sozinho; enquadra a lente e aperta o “play” em “rec” de emoções que somente ele compreende; volta pelo mesmo rio, ou segue trilhas entre mangues, matas virgens e devastadas; vê queimadas desenfreadas e percebe que precisa fazer algo de diferente; e navega, navega entre furos, igarapés e internets na busca de um “yotube” para divulgar sua produção, seu vídeo inacabado porque não sabe editar, melhor, sabe, mas não tem uma ilha de edição, um “computadorzinho”, com um “programinha” que possa atendê-lo na sua necessidade de realizador. Como seus filmes não têm onde ser guardados se perdem na capacidade limitada da câmera de armazená-los, para dar lugar a outros filmes, porque sua vontade de produzir é maior que a memória de seu chip ou do seu cartão de memória. Aí tudo se perde, e começa tudo de novo.
Na prática cotidiana desse ser nativo, vemos algo precioso que é a vontade de produzir imagens mesmo sem o interesse de ganhar subsídios para a sua subsistência. Muitos, ou quase todos na mesma situação, possuem atividades paralelas em suas comunidades na prioridade do sustento pessoal e da família. O prazer de criar roteiros audiovisuais não sistematizados pode lhe render uma rodada de amigos que chegam à volta para conferir sua produção, e a idéia de compartilhar imagens parte da necessidade coletiva de congregar sentimentos em volta de uma temática registrada no olho eletrônico, a mesma necessidade que nós, de centros urbanos, temos quando reunimos e socializamos filmes, nossos ou de outros, com problemáticas sociais, e chamamos isso de cineclubismo.
É claro que há diferenças estruturais no formato e no arranjo de apresentar a obra, são duas realidades diferentes; mas há algo em comum que ultrapassa a simples vontade de produzir e difundir um vídeo: atitude criadora, e isso poucos profissionais inveterados têm na dimensão de suas atitudes reprodutoras. O ato de criar ultrapassa a fronteira da vontade, e vontade todo mundo tem; estimular a capacidade criativa desses atores sociais também é um ato de criatividade, ou pela necessidade da profissão, ou pela necessidade inata de dividir o que já foi conquistado.
Portanto, não é sábio aquele que pensa em levar vantagens sobre os que ainda não dispõe de tecnologias mais avantajadas; não basta ficar somente na vontade de querer compartilhar recursos e saberes tecnológicos às regiões mais distantes dos grandes centros produtores de cinema; coloquemos em prática a atitude criadora de quem pode e deve compartilhar novas estratégias na produção de conhecimento. Lancemos a rede nos rios de saberes amazônicos, e veremos o quanto temos que nos alimentar. Poucos estudiosos têm essa preocupação de valorizar uma demanda tão desprivilegiada das oportunidades neurais do país. A nós urbanos, cabe um rasgo de lucidez para ampliar as lentes, as nossas lentes, biológicas mesmo, para tentar compreender essa real situação.
Como não somos Pilatos e nem viemos de Roma, somos nativos zoneadores __ faço aqui uma rápida alusão aos homens que por aqui passaram em busca de riquezas e deixaram um buracão enorme, como cratera, na serra de Carajás; levaram riquezas, um ouro material que nunca vimos e usufruímos como retorno de investimentos, e até hoje é assim – retorno a este texto como garimpeiro de outra realidade, na busca de um outro ouro que reluz por trás de homens e mulheres que lutam para manter vivas as mais diferentes manifestações culturais da nossa Amazônia, se de fato é nossa.
Nesse sentimento de pertencimento, trago à luz de um Fórum que se inicia neste espaço outros sentimentos de liberdade, de criação, de respeito a este povo que clama por outro sentimento maior, que é o sentimento de viver com dignidade, sem exclusão dos bens que a ele mesmo pertencem: a sua terra, o seu rio, sua floresta, seus saberes locais que nem de perto ousamos explicar, tamanha é a sua sabedoria. Por isso e por muito mais, o 1º Fórum Audiovisual da Amazônia Legal se configura, para tratar questões específicas de uma região rica em biodiversidade, única do continente, maior do mundo, e busca instrumentos reguladores legais de valorização aos saberes dos povos tradicionais amazônicos, sendo o cinema e a produção audiovisual trilhas nesta “selva capital” de interesses escusos. 
Continua...
Ao estabelecer diálogos com autores sobre as questões da Amazônia e seus povos, apresento Albagli (2003), ao referir-se sobre a definição do Conselho Mundial de Povos Indígenas (1977):
Povos indígenas são grupos de populações como nós, os quais, desde os tempos remotos, têm habitado as terras onde moramos; os quais são conscientes de possuir um caráter comum próprio, com tradições sociais e meios de expressão associados ao país herdado de nossos ancestrais; com uma língua própria nossa e tendo certas características essenciais e únicas que nos conferem uma forte convicção de pertencer a um povo, que tem uma identidade nossa e deve assim ser visto pelos outros.” (apud AXT et alii, 1993)[1]. Alguns aspectos estão geralmente presentes nas formas como se definem e caracterizam esses grupos sociais: uma história comum, cujo desenvolvimento sofreu um duro golpe com o processo colonizador; uma identidade étnica e sócio-cultural; e a ocupação ancestral de dado território. Tais grupos reivindicam direitos de caráter coletivo, como o direito à terra, aos recursos naturais nela existentes, à auto-determinação política e à cultura própria. No caso dos direitos relacionados à biodiversidade, alguns preferem o termo populações ou comunidades tradicionais, que abrangeria também, por exemplo, os agricultores que desenvolvem práticas tradicionais na agricultura. Outros ainda sugerem o termo comunidades locais como mais apropriado, referindo-se a “um grupo de pessoas possuindo uma organização social estabelecida, que as mantenha unidas seja em uma determinada área ou de alguma outra maneira (NIJAR, 1996).
Não importa o nome, a nomenclatura, se é comunidade, se é população, se são povos tradicionais... O que importa são os conteúdos expressionais significativos dessas pessoas enquanto indivíduos com identidades, vontades e atitudes próprias, que vivem como organização social estabelecida, com direitos e deveres, regidos pela mesma constituição. Esses grupos reivindicam sim seus direitos coletivos sobre seus saberes tradicionais, direito à terra, aos recursos naturais como meio e fim, direito aos recursos tecnológicos para produzir e finalizar seus filmes sem sofrer o processo de aculturação, se essa é a sua vontade. Não vamos polemizar se isso é certo ou errado, se alteramos ou não a configuração de uma cultura tradicional. A questão está centrada na acessibilidade de bens patrimoniais pertinentes a todos os brasileiros, indistintamente. É um processo de escolha que independe da nossa vontade, acontece em vias de mão dupla na partilha de conhecimentos e de bens materiais. É um direito deles e nosso.
Alguns estudiosos defendem em suas pesquisas o conhecimento tradicional dos povos amazônidas passado pela oralidade, de geração em geração, na ausência do papel, da escrita, da escola tradicional jesuítica que, historicamente, mutilou línguas e costumes tradicionais de etnias diversas. Muitas dessas línguas se perderam e estão se perdendo com a migração de jovens produtores nativos na busca da “civilidade” urbana; algumas etnias resistem ao nomadismo e desejam permanecer natura, ainda que cheguem novos signos e códigos interferindo no seu cotidiano “primitivo”.
Na contramão do que imaginamos, não é comum, quando em vez, ver um representante de uma etnia tradicional manipulando uma câmera em algum encontro institucional ou na ilustração de algum raro artigo acadêmico em estudo antropológico. Da mesma forma que buscamos estratégias para perpetuar nossa memória, esses povos também buscam a memória eletrônica. Em ambos os casos, nem por isso deixamos de falar a língua que nos foi ensinada, e continuamos a utilizar todos os recursos eletrônicos inventados e que podemos usufruir.
Ao limpar das lentes, nos deparamos com algumas culturas audiovisuais realizadas na Amazônia, que se organizam e se consolidam como associações, grêmios, assembléias, coletividades e sociedades organizadas, e nos surpreendemos com a qualidade de conteúdo de suas obras. Em processo bem adiantado, um pouco distante do caboco de produção inicial, esses realizadores já têm uma expressão cinematográfica que não pode ser desprezada. Temos exemplos concretos destes movimentos, às vezes intermediados por nós mesmos no desejo de ajudá-los, na verdade são eles que nos ajudam a entender o processo inverso de se construir conhecimento. “Cada ponto de vista é a vista de um ponto”, diz Sousa Santos (2005). 
 A busca para uma política de produção cinematográfica com qualidade na Amazônia Legal passa por grandes desafios, e que aqui se manifesta como carta magna em desejo coletivo de todos que consolidaram este movimento, FAAL; o momento é raro, ainda que distante, como utopia, devemos aproveitá-lo e construir uma história.
Com bases justas para o país, o nosso Brasil, principalmente para esta população Amazônida, é preciso ainda:
a)   Investir em ciência, tecnologia e educação -- voltadas para ampliar recursos orçamentários do Ministério da Cultura, Ministério da Educação, Ministério da Educação, Ministério da Ciência e da Tecnologia, e outros Ministérios, como ação cultural coletiva priorizando a produção audiovisual da região norte brasileira;
b)    Criar estratégias de controle e fiscalização na legislação brasileira para evitar a pirataria audiovisual in natura que dispomos, por parte das produções cinematográficas estrangeiras, sob pena de multa e indenização pelo uso não autorizado de imagem e som da Amazônia Legal;
c)    Fortalecer o STIC, Sindicato dos Técnicos e Investidores Cinematográficos no Brasil, dando bases jurídicas de direitos aos profissionais de cinema nele credenciados, e fazer valer a valorização estipulada em tabela nacional, não cabendo mais o profissional audiovisual da Amazônia Legal ser refreado e contido enquanto realizador;
d)    Valorizar os professores e instrutores profissionais do audiovisual nativos e residentes na Amazônia legal há mais de dois anos comprovadamente, na mesma condição do item anterior;
e)    Criar cursos de formação técnica para o audiovisual em todas as capitais dos estados que constituem a Amazônia Legal e seus municípios pólos.
f)     Reconhecer os cursos técnicos do audiovisual como atividade complementar acadêmica para os cursos de graduação nas mais diferentes áreas de atuação, considerando o audiovisual uma atividade [trans]disciplinar;
g)    Criar Linhas de Pesquisa de Cinema e Vídeo nas Universidades e Instituições de Ensino Superior, com foco nos saberes tradicionais dos povos da Amazônia Legal;
h)   Criar Cursos Stricto sensu, Lato Sensu, Graduação, de Extensão Cineclubista para pesquisa e formação profissional nas Universidades Federais dos Estados da Amazônia Legal;
i)     Ampliar os Núcleos de Produção Digital, câmeras digitais, equipamentos de som, kits de iluminação e correlatos, e democratizá-los por meio de ações conjuntas e descentralizadoras em todos os estados e/ou municípios pólos da Amazônia Legal, ficando os profissionais do audiovisual responsáveis pela tutela dos equipamentos;
j)      Inserir e/ou ampliar nas escolas instrumentais de produção audiovisual como instrumento de produção de conhecimento em caráter multi-trans-interdisciplinar;
k)    Criar mecanismos alternativos e diferenciados de produção e difusão audiovisual na Amazônia Legal, considerando a logística de transporte e fonte de energia, com a concessão de geradores e barcos com geradores para a viabilização de projetos cineclubistas de produção e exibição de filmes e/ou vídeos regionais.
l)     Reconhecer a importância e oferecer condições para que esses conhecimentos “tradicionais” sejam não apenas protegidos, mas para que também continuem a ser gerados e valorizados pelos instrumentos de difusão audiovisual para o Brasil e para o mundo.
Com essas reivindicações, encerro este texto com uma citação de Albagli (2003), ao fazer a abertura nos anais do Seminário "Saber Local/Interesse Global: propriedade intelectual, biodiversidade e conhecimento tradicional na Amazônia"[2], estudo este que reuniu intelectuais do Brasil e do Mundo, entre profissionais da educação, antropólogos, sociólogos, cientista sociais de diferentes áreas de estudo, que se preocupam com os povos e saberes tradicionais da Amazônia. Diz a autora:
Finalmente, devo assinalar que a temática da biodiversidade pode vir a ser não apenas expressão ou resultado de uma dinâmica geopolítica global, mas também um elemento de mudança no desenvolvimento futuro desse quadro mais amplo, a partir do processo político que se estabelece ao seu entorno. No novo regime internacional sobre a biodiversidade, afirma-se a soberania dos Estados-Nações mais vulneráveis no sistema internacional sobre suas reservas de natureza, ante as pressões e a cobiça de interesses externos; ao mesmo tempo em que esses mesmos Estados são chamados à responsabilidade no sentido de tomarem medidas efetivas de proteção do meio ambiente [contraditório com o advento da Belo Monte – grifo meu]. Coloca-se, ainda, em evidência a urgência de se reverterem práticas milenares de saqueio e exploração de riquezas naturais, contemporaneamente renovadas com a chamada biopirataria internacional [nossas imagens também são biopirataria audiovisual – grifo meu]. Impõem-se, por outro lado, as pressões para elevar à condição de atores, cujos direitos, opiniões e modos de vida sejam respeitados e garantidos, populações, historicamente, marginalizadas e submetidas ainda hoje à ameaça de genocídio - não só cultural, mas de fato [latifúndio e grilagem de terra – Idem]. E, por fim, coloca-se como central o questionamento sobre a tendência à hegemonia do mercado, e a necessidade de recuperar a ética e de resgatar o valor intrínseco da natureza e da vida. A questão da biodiversidade [e do audiovisual brasileiro – Idem], em sua forma contemporânea, coloca, então, uma agenda de temas que apontam para a necessidade de um novo desenho geopolítico pautado na democracia política e social.
Aos amigos que se reúnem em Atibaia, deixo esta minha contribuição para que seja socializada, ampliada, discutida e usada de alguma forma. Não quero inventar a roda, mas, talvez, outras formas de saber aproveitá-la na trilha que percorremos. Olhem com carinho a Amazônia, o FAAL que ora desenhamos ainda com desconfiança. Precisamos de todos, indistintamente, para abrir caminhos, percorrer trilhas, navegar rios, e levar o cinema tupiniquim como bandeira a todas as nações brasileiras e promover uma insurreição cultural do cineclubismo que se fortalece a cada dia.
Na sequência dos fatos, pós-encontro do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros em Atibaia, estado de São Paulo, transcrevo na íntegra a carta que resume as proposições sobre cineclubismo e audiovisual brasileiro:
CARTA DE ATIBAIA DO CNC
A direção do CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros – reunida de 09 a 11 de maio de 2011, durante o 6º FAIA - Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual, vem reafirmar o seu posicionamento relativo aos seguintes pontos: - A continuidade das políticas culturais, das conquistas e dos espaços institucionais de participação alcançados pelo CNC; - A manutenção, ampliação e garantia dos recursos necessários a continuidade do Programa Cine Mais Cultura, conforme anunciado pela Secretária do Audiovisual, Ana Paula Santana, e confirmado pela Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, na última reunião do Comitê Consultivo da SAV, realizada em Brasília nos dias 14 e 15 de março de 2011; - A inclusão do cineclubismo no sistema educacional brasileiro, através da implantação de cineclubes nas escolas, com base nos conteúdos e métodos que vem sendo desenvolvidos no movimento cineclubista a exemplo do projeto “Cineclubismo, Cinema e Educação”; - A reavaliação do Programa Cinema Perto de Você, desenvolvido pela Ancine, e implantação imediata de salas populares de cinema, em todos os municípios brasileiros, utilizando o modelo POP Cine, que garante a ampliação da cota de tela para a exibição da produção audiovisual nacional; - O apoio a proposta de reforma que atualiza a Lei do Direito Autoral, em vigor, especialmente, nos itens que se referem à democratização do acesso do público aos bens culturais e ao fortalecimento dos direitos do público; - A garantia efetiva de destinação de recursos e do seu não contingenciamento à cultura conforme disposto na PEC 150, atualmente em tramitação no Congresso Nacional; - O apoio à aprovação do PLS 116, atualmente em tramitação no Senado Federal, conforme o texto já aprovado pela Câmara de Deputados; - O apoio a imediata aprovação do projeto que institui o vale cultura, solicitando-se a inclusão de dispositivo que garanta sua utilização apenas para o acesso aos bens culturais originários de países signatários da Convenção pela Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (Convenção da UNESCO) ; - A solicitacão da imediata exclusão da proposta da LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias - de 2012, encaminhada pelo governo para apreciação e aprovação pelo Congresso Nacional, do item que a exemplo do artigo 20, inciso XIII, da Lei de Diretrizes Orçamentárias, atualmente em vigor, criminaliza o conjunto das entidades culturais brasileiras e impede o repasse de recursos públicos pelos Ministérios da Cultura e do Turismo para realização de “eventos”; - O apoio as imediatas implantações do Plano Nacional de Cultura, da construção dos Planos Setoriais, em especial o Plano Setorial do Audiovisual e do Plano Nacional de Banda Larga; - O apoio a imediata votação e aprovação do projeto de Lei de Reforma da Lei Rouanet (Procultura); - A solicitação da imediata criação de um grupo de trabalho, composto por representantes do executivo e legislativo federais e entidades da cultura da sociedade civil, objetivando a formulação de propostas de mudanças na atual legislação, normas e atuais trâmites burocráticos, norteadores da apresentação de projetos , tramitação e prestação de contas. Destacamos ainda a relevância da instituição do "Dia do Público”, proposto pelo cineclubista Felipe Macedo e criado durante as reuniões do CNC, neste festival, a ser celebrado a cada ano, em 10 de maio. Nesta data, no ano de 1849, em Nova Iorque, ocorreu a Revolta do Astor Place, onde o público se manifestou de maneira ruidosa mas pacífica pelo acesso irrestrito aos bens culturais, as autoridades e as forças policiais praticaram uma repressão sangrenta, com mais de 20 mortos e uma centena de feridos. Para finalizar destacamos a relevância histórica da eleição do cineclubista João Baptista Pimentel Neto para presidente do CBC – Congresso Brasileiro de Cinema. Agradecemos a Prefeitura da Estância de Atibaia, Difusão Cultural de Atibaia, Difusão Cineclube, Secretaria do Audiovisual e Ministério da Cultura por, mais uma vez apoiarem a realização da reunião da diretoria do CNC – Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros. Atibaia, 14 de maio de 2011. (a) DIRETORIA CONSELHO NACIONAL DE CINECLUBES BRASILEIROS (2010-2012).
Nesse contexto, percebe-se que se desenham políticas públicas voltadas ao seguimento em foco, e acredita-se que estas políticas possam contemplar todo o território nacional, inclusive a Amazônia Legal, objeto deste ensaio, que se manifesta em canto das Iaras e Curupiras, das Matintas e Macunaímas, e busca reconhecimento e apoio às mais distantes imagens e sons produzidos como produto audiovisual brasileiro.
No complemento da Carta, apresento também o Projeto Uni Escola Cinema como alternativa de se chegar às escolas pela veia cineclubista, como contribuição às iniciativas que se desenham em favor da temática “Cineclubismo, Cinema e Educação”; dizer que o Uni Escola Cinema abraça quatro municípios do interior do estado como projeto de extensão universitária da Universidade do Estado do Pará, Campus Vigia de Nazaré. Antes, era apenas um simples cineclube com pretensões audaciosas, dirigido por um sonhador que não sonha sozinho. São escolas e comunidades, professores, alunos e gestores educacionais que se reúnem para assistir e produzir vídeos documentários, alguns de ficção, com seus olhares e linguagem própria, como estratégia para a produção de conhecimento em ação interdisciplinar.
A exemplo desta experiência, muitas outras são silenciadas pelo distanciamento e interesse de [não]reconhecê-las, pelas questões geoeconômicas e geopolíticas colocadas como escudos de uma justificativa sem fundamentação. A exemplo desta experiência, índios, negros, comunidades tradicionais outras da Amazônia possuem produções audiovisuais na redundância deste texto para enfatizar o nosso canto, e que somam às forças do movimento nacional e se vêem representados na carta supracitada. Parantim espera, ora se espera. Enquanto isso produz oxigênio para todos sobreviverem e contarem histórias.
Referências:
ALBAGLI, S. Informação e geopolítica contemporânea: o papel dos sistemas de propriedade intelectual. Informare . Caderno do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v.3, n. 1-2, 1997.
AXT, Josephine R. et alii. Biotechnology, indigenous peoples and intellectual property rights. CRS Report for Congress. April, 1993.
NOPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003.
NIJAR, Gurdial Singh. In defense of local community knowledge and biodivesity. A conceptual ramework and the essential elements of a rights regime. Penang: Third World Network, 1996.


[1] Doutoramento, como aluno especial, nas disciplinas: “Análise do Discurso Narrativo” e “Linguagem e Interpretação: uma introdução ao projeto teórico de Clifford Geertz”, pelo Centro de Filosofia e Antropologia da UFPA; doutoramento, como aluno  especial, na disciplina “Antropologia Social” pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA/UFPA; Mestrado em Educação pela Universidade do Estado do Pará – UEPA, com a dissertação “A Educação no Museu do Marajó: ver, tocar e contextualizar"; Especialização em Semiótica e Cultura Visual pela Universidade Federal do Pará; Especialização em Recursos Humanos em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco; e Especialização em Docência no Ensino Superior pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas. Atualmente é Professor da rede de Ensino Superior e colaborador do Grupo de Pesquisa Cultura e Memórias Amazônicas da UEPA; tem experiência em Artes Cênicas e Audiovisuais (Cinema e Vídeo); estuda os Saberes do Museu do Marajó. É autor de artigos científicos e co-autor de livros acadêmicos na área de cultura e saberes amazônicos. www.unescolacinema.blogspot.com
[2] do Seminário saber Local / Interesse global: propriedade intelectual, biodiversidade e conhecimento tradicional na Amazônia (2003: Belém / Pa) [Anais] do Seminário Saber Local / Interesse global: propriedade intelectual, biodiversidade e conhecimento tradicional na Amazônia (2003: Belém/Pa).