quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

VIOLÊNCIA TAMBÉM SE APRENDE E SE MULTIPLICA

VIOLÊNCIA __ A CEREJA DO BOLO DA GRANDE MÍDIA
TAMBÉM SE APRENDE!
                                                                                                                              
                                                                                                           por Darcel Andrade

Sem interesse por livros, o jovem, a criança, e até mesmo o adulto, ligam a TV. É violência pra cá, é violência pra lá, um reality show de crises sociais, de desmandos e de oportunismos. E a sociedade tem que ficar informada, é verdade, mas o preço a pagar é muito alto. Será que o Brasil e o Pará só têm isso pra mostrar nos seus noticiários? "__Banalizou-se a violência!" Disse uma senhora lendo a manchete de um jornal na padaria. Texto, intertexto e contextos são considerados, e não sabemos o que pensar e dizer nesses momentos. E culpamos um sistema, um modelo de gestão, uma maneira de entender como e por que essa violência se multiplica, e a primeira leitura são os veículos de comunicação. É porque também aprendemos com o encanto das imagens dentro de uma telinha. E estamos falando de aprendizagem, e a violência também se aprende.

A relação causal da violência está ligada diretamente na sua mediação que a multiplica e a banaliza, não há como separar o tráfico de drogas e armas que ultrapassa as fronteiras do efeito que este fenômeno exerce sobre os jovens delinquentes na ponta de uma problemática cada vez mais complexa para os profissionais das ciências sociais e políticas. Assim sendo, causa e efeito são conhecidos, somados à corrupção do país; falta então assumir responsabilidades, conhecer os processos de mediação e discuti-los,  e tentar aliviar as tensões do dia-a-dia.   

Nessa tentativa, a campanha contra a violência chega às escolas paraenses, agora, com o apoio da tímida mídia. E digo, já vem tarde, mas ainda é tempo se levada a sério e ampliada com rigorosas políticas públicas de intervenção nas áreas culturais e esportivas, principalmente nas periferias. E isso todo mundo tá cacareco de saber, menos o poder público. Sou do tempo de cantar o Hino Nacional Brasileiro, de festejar datas comemorativas com responsabilidade e participar de feiras de ciência, fazer campanhas filantrópicas em asilos e hospitais com meus colegas de turma, como ação de cidadania e construção de valores humanos. 

O projeto "Escolas de Portas Abertas" não vingou por falta de atitude criadora adequada e, principalmente, falta de valorização de gestores educacionais e professores aos fins de semana como foi prometido à sociedade. Belém está cheia de quadras esportivas vazias, mas sem projetos de inclusão social e de entretenimento, seja nas escolas, como nas ruas de lazer, em conjuntos habitacionais...

Alunos na escola em tempo integral é uma possibilidade remota enquanto não duplicarem o número de salas de aula. Imaginem o aluno que estuda de manhã e amplia sua permanência na escola, sua sala de aula pode ser a mesma, mas a turma da tarde, que antes ocupava aquele mesmo espaço, precisará, certamente, de outra sala de aula ou espaço alternativo e educativo para manter-se no horário integral. Somado aos serviços de infraestrutura, há os de formação e valorização de profissionais entre gestores, técnicos e professores para compor um exército contra o que chamamos de delinquência juvenil, esta que a mídia noticia como manchetes frias e sanguinárias, em "nome da verdade" jornalística.

A prefeitura de Belém começou um torneio há menos de um mês e chama a população para os núcleos de esportes criados em cinco bairros eleitos no centro da cidade e dois mais afastados, como que cumprisse uma agenda do faz de contas, achando que os jovens excluídos se interessarão por um troféu de lata ao invés das petecas e papelotes. Esperar que eles cheguem mais perto dessas ações é tão poético como que acreditasse em contos de fadas. Assim sendo, melhor convocar um esquadrão de super-heróis para resgatar as "crianças" do perigo e da queimação, antes que elas toquem fogo na babilônia tupiniquim papa-chibé. Que seja pela educação e pela cultura __ essas são as trilhas nesse labiríntico pântano de incertezas.

Referindo-nos à segurança pública, ao pensarmos polícia nas ruas, sabemos que esta ação é como um tampão tentando estancar o sangue derramado nas ruas com assassinatos de jovens adolescentes roubados pelo tráfico de drogas e delinquência em geral, como agentes recrutados a alimentar uma outra sociedade na contra ordem dos valores que a escola tenta desesperadamente imprimir a seus jovens estudantes, que se evadem da sala de aula para brigarem nas ruas como gangues. Pior são os que não mais frequentam a escola. Como atingir essa demanda?

Para ilustrar, Belém tem um quarto da população da capital do Iraque e apresenta mais da metade das mortes dos conflitos políticos apresentados naquele país em situação de guerra. Em 2009 foram 1.545 homicídios comparados às 1.169 mortes em Bagdá; agora, mais próximo, em 2013, chegamos ao intervalo de 5 a 14 homicídios por dia, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, em 2014 a situação se agrava. Onde vamos chegar?

Arrisco anunciar que as representações sociais apresentadas neste universo delinquente são reproduzidas pela grande imprensa que, ao mesmo tempo  que informa a população dos fatos violentos, também promove a formação de novos delinquentes e marginais, como se assistissem um telecurso de técnicas para assaltar bancos e explodir caixas eletrônicos; técnicas de como fazer um refém depois de um assalto e se entregar caso seja frustrado o seu assalto, técnicas de "rapidinhas", de "sapatinhos", seja lá qual for o nome do conteúdo das reportagens na busca do furo e da audiência interessada. Parece que esse público não assiste outra coisa; do contrário, hão haveria ibope para isso comprovar. Formar opiniões e pensadores diferenciados é uma grande responsabilidade. É claro que essa é somente uma fatia do indigesto bolo que temos que degustar todos os dias, confeitado com a cereja da violência urbana.

Sinceramente? Penso que a imprensa poderia priorizar outras pautas mais interessantes. Iniciativas de inclusão social relevantes de muitos educadores, artistas e voluntários, cidadãos do bem com ações virtuosas DENTRO E FORA DA ESCOLA, nas comunidades... todas estão na ordem do dia e na ordem das necessidades, já dizia Freud... Esses sim são exemplos a serem multiplicados e aprendidos pelos nossos jovens que só sabem assistir baixaria na TV. Melhor ainda, que estes profissionais da educação sejam reconhecidos e valorizados em todas as estâncias; de tudo, a prioridade é atribuir mais respeito aos professores, acreditar na educação como ação transformadora NA PRÁTICA e não somente no discurso, como nas teorias freireanas tão citadas na academia.