segunda-feira, 22 de abril de 2013

DE FORA entre os dez selecionados no Festival Clarocurtas 90min em 2011

O discurso está do lado DE FORA do sistema, da escola e da sociedade. Jovens moradores de rua, em situação de risco, encontram dificuldades para voltar à Escola, principalmente ao seio da família. Os filósofos Benedito Nunes e Ivanilde Apoluceno apontam alguns caminhos. O vídeo foi selecionado como semifinalista do Festival Curtíssimametragem Claro na categoria "cineclubismo", com produção do Projeto de Extensão Cineclubista Uni Escola Cinema, da Universidade do Estado do Pará - Campus Vigia.  

A direção é do cineasta paraense Darcel Andrade.


A PINTURA E O CINEMA memória de um realizador aprendiz

PINTURA DE JOÃO BELLO  inspira e transpira

por Darcel Andrade - aprendiz 

 

O Uni Escolas Cinema entende que o cinema busca em sua estrutura a composição de imagens, basicamente da fotografia,  e esta da pintura como construto epistemológico. Ao visualizar os quadros de João Bello, como aprendiz contemplador, reporto-me aos tempos de minha formação acadêmica, que, nem de longe, passava perto do domínio da figura humana como este pintor. Limitava-me às naturezas mortas e outros compositivos das artes plásticas na busca de traços nas esculturas, xilogravuras, desenhos em bico de pena, pastel, e arriscava uma aquarela, chegando às tintas acrílicas na revolução da tinta à óleo; por vezes uma fotografia aqui e ali, mas sempre ligado ao que produzia e favorecia a minha inserção nessa odisséia de ser um 'artista plástico'. 

 

O meu trabalho de conclusão de curso na Universidade foi uma leitura em vídeo de um escultor famoso em Belém do Pará, talvez do Brasil, chamado João Pinto. Conheci João nas vernissagens e coletivas que eu mesmo realizava, muitas vezes o convidava como carro-chefe de uma turma de artistas iniciantes, e que hoje fazem-se famosos aqui e ali nas raras exposições que realizam. Não digo nomes, muitos são meus amigos.

 

 Penso que minha inserção no cinema ou a minha paixão por ele começou dessa ousadia. Sim, fazer um vídeo ao final da década de 80 no Brasil, no norte do país, era coisa de louco, sem dinheiro e sem estrutura tecnológica, apenas a vontade de fazer. Antes, durante o curso, realizei um vídeo bem amador sobre a produção de cerâmica marajoara de Icoaraci, grande Belém, desde a retirada do barro/argila na beira do rio, até a peça feita e decorada para comercialização, produto de renda para os artesãos daquela localidade. Esse trabalho ficou sendo reprisado nas aulas de minha professora de cerâmica em outras turmas seguintes e, acreditem, não tirei uma cópia para mim. 

 

Na TV Cultura do Pará fui convidado a produzir e dirigir um vídeo institucional dos 50 anos da presença da Força Aérea Brasileira na Amazônia, resgatando as reportagens do lendário programa Amaral Neto e os históricos aviões Catalinas que ajudavam a 'integrar' a Amazônia; e tive dois aviões Bandeirantes cedidos pelo comando da Aeronáutica para produzir imagens com a 'minha' suposta equipe de televisão, pilotos e mecânicos de vôo. Na verdade eles [da TV] tinham interesse na matéria e nos aviões voando para fazerem tomadas aéreas. Uma troca quase justa. Eu era da Força Aérea Brasilera!

 

No vídeo do escultor João Pinto fui menos bobo, guardei um exemplar em fita VHS de baixa qualidade; talvez seja o único material gravado deste escultor, que faleceu meses após eu fazer as gravações em seu quintal, onde realizava seu processo de criação das esculturas de mulheres gordinhas em alumínio maciço, técnica rara e artesanal. Ele cavava buracos na terra como espaço do forno, onde jogava o alumínio derretido em 'forma perdida' [quem conhece sabe o que estou a falar]. João Pinto tem peças espalhadas pelo mundo, talvez mais conhecido aqui fora do que em sua terra natal. Em outro momento posso discorrer sobre esse grande artista.

 

E o cinema? Ah, o cinema! Esse foi me tomando conta sem que eu percebesse, e já nem era mais um cotemplador contumás. Vi-me a ler guiãos, Doc Comparato, Syd Field e outros roteiristas, acompanhei o movimento e o resgate do ciclo de cinema da nova escola de Recife, e lá entrei na Universidade para fazer extensão em roteiros cinematográficos com o Professor Nelson Simas na TV Universitária, este, com formação européia da escola neorealista italiana.  Enquanto o Brasil atravessava a crise cultural no governo Collor, assisti Fellini, Kurossawa, Truffaut, David Linch... que me perdia; e Carla Camurati carregava uma cópia de seu 'Carlota Joaquina' debaixo do braço para exibi-lo nas salas de projeção. Veio o 'dogma 95, uma revolução com o cinema com câmera de vídeo digital e, ao mesmo tempo, uma polêmica.

 

Cheguei aos diretores Camilo Cavalcanti [O velho, o mar e o lago], Sandra Ribeiro ['A Partida' e 'Oi, d'eu sodade'], conheci Claudio Assis ['Texas Hotel' e 'Amarelo Manga'], Kátia Mesel [O Recife de dentro pra fora] filme baseado no Romance 'Cão sem plumas' de João cabral de Melo Neto. Entre esses diretores fiz direção de arte para seus filmes; conheci técnicos e diretores de fotografia com quem partilhei o set de filmagem entregando-lhes os cenários, objetos de cena, volumes de cena e alguns atores ensaiados e maquiados com seus figurinos, quando o diretor pedia. Nesse contexto tive uma grande escola com os premiados fotógrafos Jorge Monclar e Mauro Pinheiro.

 

Na sequência, deparei-me fazendo ponte aérea Recife - São Paulo para realizar cursos técnicos de cinema, vários, pela Stain Produções em parceria com a Quanta Produções. Eduardo Aguillar, Kátia Coelho, Augusto de Blasis, Alziro Barbosa e outros foram os meus mestres; junto com eles os amigos Miguel Rodrigues [Studio Take a Take TV e Cinema] e Fábio Barreto [O Quatrilho], com Walter Lima [A ostra e o vento] fiz 'Direção e interpreação', com o Argentino Fernando Solanas [A nuvem] fiz Direção e Produção. Uma 'escola de bamba' do cinema brasileiro que se firmava e se firma até hoje, com profissionais apaixonados pelo que fazem.

 

Muitas coisas marcaram essa minha trajetória, e, uma delas, as aulas de Fotografia de Cinema com Alziro Barbosa [mestrado em cinema na Russia] iniciavam com quadros de pintores famosos, das escolas clássicas, renascentistas, românticas e modernas da pintura mundial. Era um show de imagens, cores, formas e de elementos visuais estéticos voltados para o ecrã de uma câmera enquanto plano, narrativa e linguagem.  

 

Olha só, João Bello, o que você fez em minha memória. Como diz o saudoso Paulo Autran: "acho que tô ficando velho!" [Risos]